Buscar a felicidade é burrice.
Vivemos obcecados pela felicidade, livros de autoajuda prometem fórmulas mágicas, influencers vendem rotinas "perfeitas" e o algoritmo das redes sociais nos bombardeiam com milhares de mensagens dizendo que precisamos ser felizes sempre. Mas é essa pressão por alcançar um estado constante de felicidade que justamente nos aprisiona na infelicidade.
“Quando eu emagrecer 10kg, ai eu serei feliz. Quando eu for promovido, eu estarei completo. Quando eu casar, viajar, comprar, realizar...”. Sempre falta um "quando". Sempre falta um "se". E assim, viramos zumbis de nossa própria insatisfação.
Nas redes socias a felicidade é uma moeda, as pessoas postem sorrisos filtrados, viagens impecáveis, relacionamentos perfeitos. Criando um loop infinito de felicidade, enquanto nos bastidores lidamos com as mesmas angústias de sempre: solidão, insegurança, medo do fracasso. O filósofo coreano Byung-Chul Han chama isso de "sociedade do cansaço": um mundo onde a autoexploração é disfarçada de empoderamento. "Seja resiliente", "Pense positivo". Estímulos que em vez de aliviar, culpabilizam, afinal se a felicidade é uma escolha, a infelicidade só pode ser incompetência.
Essa cultura good vibes only não só invalida nossas emoções legítimas (raiva, medo, luto), mas também gera culpa. Se você não está feliz, algo deve estar errado com você, certo? ERRADO. Aceitar que a infelicidade faz parte da nossa existência não é pessimismo, é maturidade.
Quantos de nós já não se sentiram culpados por estar triste? Quantos já não se forçaram a sorrir em fotos para não estragar o clima? Mas suprimir emoções negativas não as elimina, apenas as enterra vivas. E um dia elas voltam para te assombrar. Nós fomos domesticados para acreditar que tristeza é inimiga, que frustração é doença, que o vazio é defeito. Mas e se eu te dissesse que é justamente nesses intervalos de sombra que a alma cresce? É no silêncio entre uma conquista e outra que nos descobrimos não como heróis, mas como humanos inteiros, falhos, frágeis, belos.
A verdade é que a felicidade não é o destino e sim o caminho, é um efeito colateral. A felicidade aparece quando você esquece ela, quando a gente se ocupa vivendo, caindo, errando, rindo à toa, chorando e, acima de tudo, sentindo tudo com o volume no máximo. Enquanto você busca a felicidade, a vida verdadeira feita de momentos bobos, passa voando pela sua janela sem nem dar tchau.
Quando você transforma a felicidade em uma meta, você cria expectativas irreais. Assim qualquer momento de tristeza ou tédio vira um "fracasso", você se torna refém de uma montanha russa emocional: subindo na esperança de um pico eterno, mas sempre despencando de volta para a realidade.
Talvez isso pode te ajudar.
Troque “felicidade” por “propósito”.
VIktor Frankl, sobrevivente do holocausto e criador da logoterapia, defendia que a busca por significado e não por prazer é que nos sustenta. Encontrar razões para agir, mesmo em meio ao caos, gera uma satisfação maior que picos duradouros de alegria efêmera.
Celebre micro alegrias.
Um café quente, uma conversa sem pressa, o cheiro da chuva. A felicidade não precisa ser grandiosa, são os pequenos momentos que muitas vezes são ignorados que tecem um plano de fundo de contentamento.
Ajude alguém.
Pesquisas mostram que atos de generosidade ativam circuitos de recompensas no cérebro mais intensamente que o autocuidado. Felicidade é muitas vezes um subproduto de esquecermos um pouco de nós mesmos.
A felicidade existe e não existe.
Há um experimento mental na física quântica chamado "O gato de Schrodinger", (aposto que você o conhece). Nesse experimento o gato está vivo e morto ao mesmo tempo, até que alguém olhe para ele. De modo similar a felicidade existe e não existe, depende de onde colocamos nossa atenção. O que aconteceria se você, em vez de persegui-la, aceitasse que ela é como o clima: mutável, imprevisível, além do nosso controle. Se parar de trata-la como um dever e a visse como um convidado ocasional, que chega sem aviso, bebe seu café e vai embora quando precisa?
O escritor Albert Camus, ao final de "O mito de Sísifo", conclui que devemos imaginar Sísifo feliz. Mesmo condenado a rolar uma pedra morro acima eternamente, ele encontra liberdade na aceitação do seu fardo. Não porque a pedra desapareça, mas porque ele deixa de lutar contra ela.
Navegando pela felicidade.
A beleza do efêmero (Mono no Aware)
No Japão, há um conceito chamado mono no aware, a sensibilidade ao caráter transitório das coisas. A cerejeira que desabrocha por uma semana, o chá que esfria, o crepúsculo que dura minutos. Felicidade, nessa visão, não é um estado durável, mas a capacidade de se maravilhar com a fugacidade. Como escreveu Rilke: "A beleza é o inicio do terror que ainda somos capazes de suportar."
Coragem de se perder.
O escritor David Foster Wallace, em seu discurso "Isso é água", lembra que "o mundo real não nos obriga a sofrer, a menos que escolhemos adorar algo". Adorar a felicidade como um ídolo é uma garantia de desespero. Em vez disso que tal abraçar a busca em si? A vida como uma paisagem a ser atravessada, e não como um troféu a ser conquistado.
A arte do cuidado.
Hannah Arendt via na "natalidade" o milagre de novos começos, a essência da esperança. Cuidar de um jardim, de uma amizade, de uma causa maior que si mesmo, são atos que não prometem a felicidade, mas eles oferecem algo mais raro: ressonância. Como diz um antigo provérbio: "Se quiser ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá junto."
Liberdade de não saber.
O poeta John Keats falava em "capacidade negativa": a arte de abraçar mistérios, dúvidas e incertezas sem correr atrás de respostas fáceis. Talvez a felicidade não seja uma resposta, mas uma pergunta que nos acompanha e, nesse acompanhamento, encontramos trilhas inesperadas.
O que fazer então?
"Leoni, se buscar a felicidade é burrice, qual é o caminho inteligente?"
O caminho é você simplesmente parar de buscar.
Você tem que aceitar a existência em toda a sua gloriosa e grotesca imperfeição.
A verdadeira vida acontece:
Nas pequenas derrotas.
No café amargo de uma manhã cinzenta.
Naquele abraço inesperado depois de um dia ruim.
No olhar perdido na janela enquanto o ônibus balança.
São esses momentos que você talvez considere insignificantes. Eles são felicidade disfarçada, dizendo que está tudo bem em não estar tudo bem.
E, paradoxalmente, quando você para de caçar a felicidade desesperadamente, ela às vezes, senta no seu colo como um gato arisco que finalmente confia.
Só mais uma coisa.
Faça isso essa semana.
Em vez de perguntar "Como eu posso ser mais feliz?", experimente perguntar "O que esta emoção está tentando me dizer?"
Troque "Preciso aproveitar a vida" por "Estou vivo. Isto é suficiente"
E se possível, contemple uma flor, não pela sua beleza, mas sim pela sua coragem de desabrochar mesmo sabendo que vai morrer
Chegamos ao fim de mais uma breve reflexão. Compartilhe com alguém que possa se interessar. E considere se inscrever para não perder nenhuma nova publicação.
Agradeço a todos que leram até o final♥
Abraços, Leoni
uma vez eu li uma frase que dizia “o sofrimento é o intervalo entre duas felicidades”; vale lembrar que não só os momentos bons são efêmeros, mas os ruins também
esse texto foi um abraço em forma de palavras 🧎🏽♀️